CONTEXTO em interação humano-computador com dispositivos móveis e em redes sociais (parte 1)

Falei rapidamente, na postagem anterior, sobre o fato de o Google não conseguir acompanhar o contexto da busca que o usuário faz. Sugeri que, ao fazer a pesquisa por imagens com termos como melancia, house e memória, talvez o usuário se surpreenda. A maioria das imagens mostradas no resultado da pesquisa não será de uma fruta, de uma casa nem a palavra memória estará associada a figuras do cérebro. Isso acontece devido ao contexto no qual o usuário está, que implica interesses específicos. O Google faz as buscas dentro de outro contexto, considerando que os três termos estão mais associados, atualmente, a uma mulher com o corpo avantajado, a um seriado de tv norte-americano e muito mais a chips do que a descrições da biologia humana.

O que importa aqui é saber o contexto. Porém, falamos muito sobre contexto sem definirmos o que realmente queremos. Falamos sobre contexto como frases que não compreendemos por terem sido tiradas de uma sequência lógica , mas também podemos falar de contexto como informações implícitas que as pessoas precisam saber para entender uma conversa. Na Internet não é diferente, e também dizemos que muita coisa depende do contexto sem especificarmos corretamente o que queremos.

Um fator importante a ser considerado é como as ciências levam o conceito de contexto em consideração para resolver seus problemas. A linguística traz vários problemas e linhas teóricas de abordagem do contexto para a compreensão do funcionamento da língua. A computação toma contexto como um problema que precisa ser resolvido para que os sistemas supram os usuários das informações mais adequadas no momento em que for necessário.

A computação trata de contexto nos estudo de interação humano-computador e sistemas colaborativos, dentre outras sub-áreas, mas tem suas definições sobre o tema trazidas de exemplos e sinônimos de outros autores, como pode ser visto em artigo de Anind. Há no estudo dos sistemas, inclusive, a idéia de ciência do contexto, que seria "a característica de um sistema prover informações ou serviços para um usuário, quando for relevante, de acordo com a tarefa que ele está realizando". Falarei mais disso em outra postagem.

Como quero compreender como as pessoas interagem contextualmente - e isso também pode ser aproveitado para futuras questões de desenvolvimento de sistemas - vou tomar como base trabalhos de Rodney H. Jones, que estão mais relacionados com a linguística. Colocarei, contudo, alguns exemplos que considero mais atuais e que, até por isso, parecem bem enfáticos em relação ao que o autor trata em texto sobre a problemática do contexto na interação humano-computador.

Rodney H. Jones fala das idéias gerais de contexto, como evoluíram na linguística e do fato de os estudos darem importância ao assunto, mas só trazerem análises descontextualizadas de chats, mensagens de e-mails e postagens em blogs. Parece que os estudiosos da linguística acham o contexto importante, mas o menosprezam em suas análises, não consideram o ambiente em que o usuário interage e isso se deve a dificuldades sobre que aspectos contextuais analisar e até mesmo a complicações sobre como obter acesso a esses aspectos.

Rodney Jones faz todo um apanhado de como várias linhas de pesquisa abordaram o contexto, passando pela sequência de frases, pelas expectativas dos indivíduos e pelos seus modelos mentais. Fala das noções que sustentam as relações entre linguagem, cultura e organização social. O autor trata das relações entre texto e contexto. Ele discute o contexto abordado por alguns pesquisadores como sendo a tríade das características consideradas relevantes pelos participantes, os objetos relevantes na situação e o efeito da ação verbal. Há espaço para o contexto como a ação desenvolvida em uma estrutura social mais ampla no exercício do poder e da dominação. Contudo, o que fica bem claro para Rodney Jones é que o contexto não pode ser limitado à realidade física ao redor do texto. O professor Marcuschi já tratou disso muito bem sem nem considerar os efeitos tecnológicos. Rodney Jones trata de três aspectos cruciais (configuração do ambiente, tema/tipo da atividadeformas de participação) com alguns exemplos gerais e eu, adiante, vou comentar esses aspectos à luz das interações mediadas em redes sociais na Internet e através de dispositivos móveis.

1 - Configuração do ambiente - Um ambiente físico tem seu papel na interação e suas peculiaridades, que podem mudar de acordo com a maneira como foi construído. Um sistema computacional tem suas características resultantes em grande parte da forma como foi implementado. Há também maneiras de se discernir nesses ambientes e sistemas como as pessoas interagem e que são diferentes em um chat e em uma conversa no corredor. Porém, em ambos, no ambiente físico e nos sistemas, não temos apenas configurações a serem investigadas e que podem ser desmontadas para uma completa investigação das possibilidades de interação. Essas possibilidades se fazem no uso dos ambientes virtuais ou físicos e podem depender muito das habilidades e dos interesses que as pessoas têm no momento ou do que pretendem negociar. Portanto, o mais importante não é a configuração do ambiente, mas como as pessoas percebem e gerenciam essas configurações quando interagem publicamente. Em alemão, essa propriedade se chamaria Umwelt, sem um correspondente no português brasileiro.

Exemplo: a maneira como gerenciamos a nossa lista de e-mails de amigos no Gmail para conversarmos com eles. Temos a possibilidade de mandar mensagens diretamente quando vemos um círculo verde associado a alguém. Quando o círculo está cinza, significa que a pessoa não está disponível, mas também podemos mandar uma mensagem. Nesse caso, a mensagem será recebida posteriormente quando o usuário se conectar à Internet. Mas ele também pode ter configurado o seu bate-papo para ficar "invisível" e nesse caso o seu círculo pode estar cinza, mas ele está lá e não quer mostrar às pessoas que está. As mensagens podem ser enviadas diretamente e o bate-papo estar configurado para aparecer em outras aplicações do Google, como o Orkut. Quando alguém está usando uma câmera, o círculo se transforma no símbolo de uma pequena câmera. Também pode ser visto, dependendo se estiver configurada a opção no Google Labs, se a pessoa está usando um celular com Android conforme discuti em outro post.

Enfim, não há simplesmente configurações, há possibilidades de se usar o ambiente, que dependem do nível de conhecimento do usuário e dos seus objetivos. Há camadas de possibilidades de agir e novos recursos surgem de acordo com novas demandas - Unwelt. Um fato importante para esta característica de interação em contexto é a forma de se ver a privacidade. As pessoas não estão presentes ou ausentes em um determinado lugar. Elas estão disponíveis. A partir da interface, as pessoas se isolam para não ficarem sós.



(continua na próxima postagem...)

A NOVA CARA DO GOOGLE: linguagem diferente ou outra forma de interagir?

Foi chegando aos poucos e se estabelecendo no início de maio. O Google ganhou uma nova cara. Com cores parecendo mais fortes pelo fato de tirarem um pouco a sombra das letras, com a caixa de pesquisa visivelmente maior e sem links em volta desta caixa. Você consegue notar que as pesquisas agora podem mostrar opções de refinamento à esquerda. Muita gente diz que é uma inspiração clara do Bing - a ferramenta de busca da Microsoft. Desde o ano passado, contudo, já havia alguns truques para ver a interface nova do Google que estava sendo moldada. O Google, em sua história, tem trazido também modificações aos poucos como o aviso de pesquisas relacionadas e tags ao final de uma página com resultado de busca. Em um primeiro momento não havia, mesmo nesta recente mudança, alguns detalhes, como um símbolo de teclado na caixa de pesquisa.

Todas essas transformações têm sua razão de ser: adaptam o usuário, procuram focos de atenção, buscam um visual mais agradável, mas a discussão neste momento será sobre o que esta nova cara (será nova mesmo?) pode possibilitar em termos de experiência (há novos resultados de interação?). E ainda: será que as pesquisas melhoraram sob esse novo rosto? Exemplificarei ao tentar responder às questões.

Nova cara do Google - O Google sempre teve a fama de ter uma interface simples. A esta interface é dado o crédito até do sucesso do Google. Muita gente diz que o Google é bom porque "tem uma interface muito limpa e simples" e só. É difícil acreditar nisso porque outras ferramentas de busca já tiveram visual semelhante e não tiveram o mesmo sucesso. Além disso, será que o Google é simples mesmo? Para buscar informação a respeito de uma palavra-chave, certamente é. Mas para saber como pesquisar arquivos de imagem, documentos ou programas em flash a partir da caixa de texto, como fazer? Você pode digitar na caixa de texto, por exemplo, filetype:doc, e na sua pesquisa só aparecerão arquivos documento. Também pode procurar a opção respectiva de busca de documento no link "Pesquisa avançada". Saber os vários comandos, como filetype, despende muito tempo e aprender sobre as várias opções de pesquisa avançada demora menos, mas não é algo assim tão simples. Além disso, tente procurar os vários recursos que o Google tem, em experimentação ou ativados. Muita coisa você deixará de achar. Donald Norman coloca mais algumas questões sobre o mito da simplicidade do Google.  A certeza que temos é que o Google é muito simples para pesquisas com palavras-chave e não que suas buscas em geral são simples, mas a opção de pesquisa e refinamento de elementos talvez tenha mudado isso como veremos adiante.

Algumas tentativas de mudar este visual "simples" do Google para a sua pesquisa principal, porém, não têm conseguido uma diferença radical. O mesmo nome Google com sua caixa de texto sempre aparece. É curioso ver até como profissionais já especularam sobre como deveriam ser as novas interfaces do Google e constatar como ela realmente mudou.

Em outras palavras, nova cara, não, e simplicidade só no visual para pesquisas com termos chave e sem perspectiva de mudança na primeira página. Temos sim uma cara antiga maqueada. A velha cara "simples" com alguns adereços.

Experiências novas com essa nova interface - Apesar das interfaces novas do Google serem antigas caras maquedas, há a possibilidade de novas experiências, de novas formas de interação. Isso acontece porque os algoritmos de busca podem até ser os mesmos, mas a interface é a linguagem e mesmo o sistema para o usuário. Ou seja, o que é maqueado pode ser considerado o próprio programa para o usuário e cada página que ele vê, além da principal, é o programa. Vejamos os novos passos na experiência.

O usuário se depara agora com um Google assim:



Aparentemente, pouca mudança até na maquiagem (veja só o detalhe do teclado acessível para uso com o mouse), e, após uma primeira pesquisa, temos uma nova, mas não tão pequena modificação:


A mudança é o aparecimento de opções de refinamento de busca da pesquisa à esquerda em um formato de menu. É importante observar que este formato não foi definido imediatamente e não sabemos se haverá novas modificações. Em alguns dias deste mês de maio, inclusive, apareceu uma outra opção, em vez da anterior, ao se fazer a primeira pesquisa na caixa de texto do Google:

 

Esta opção tem um menu com os termos Web (que seria a opção onde você estaria teoricamente no momento, já que não tem link habilitado) e "+ Mostrar opções", através da qual as opções de refinamento de busca seriam reabilitadas à esquerda. Essas opções de refinamento de busca são realmente a grande diferença, pois possibilitam novas funções para o usuário. Inicialmente há as opções "Tudo", "Blogs" e "Mais", uma linha divisória e as opções "A Web", "Páginas em português", "Páginas de Brasil", "Em qualquer data", "Últimas duas semanas" e "Mais ferramentas". As opções "Mais" e "Mais ferramentas" abrem um leque muito grande de, respectivamente, busca por elementos específicos e refinamentos da pesquisa.

Na opção "Mais" temos o seguinte:
Com essas funcionalidades, teríamos teoricamente uma melhor definição para os elementos que estão descritos, mas há alguns problemas. Categorizar sempre implica cercear o significado. A pesquisa por "Notícias", por exemplo, leva a muitos blogs e o inverso também é verdadeiro, mas nada é dado apoio ao contexto do usuário. De todo modo, para cada um dos itens acima, refinamentos sucessivos aparecem após a linha divisória, mostrando ao usuário possibilidades que ele sequer imaginaria como duração e qualidade dos vídeos, tamanho, tipo e cor das imagens e discussões do tipo fórum ou pergunta e resposta.

Na opção "Mais ferramentas" temos o seguinte:

É interessante a diversidade de refinamentos. Há algumas opções muito novas para grande parte dos usuários, como a de cronograma, que mostra, para o termo que você está procurando, uma linha do tempo com um gráfico, indicando os anos em que aquele termo foi mais pesquisado.

As experiência são obviamente novas, ricas e há opções que o usuário poderia nem imaginar, mas agora tem em mãos. Com isso, também podemos concluir que há uma melhora na pesquisa. Alguns ainda vão achar que o Google não é mais o mesmo, que não tem aquela velha simplicidade, mas simplicidade não é apenas não ter funções, é mostrar quando for possivel e esconder quando necessário. Nesse caso, há até afinamento com as teorias das simplicidade de John Maeda. Nessas leis, um dos fundamentos é considerar funcionalidades como aquelas que são nos mostradas em um canivete suiço. Puxar o abridor de garrafas no mesmo utensílio, fecha o canivete. Quando uma função aparece, as desnecessárias são ocultadas.

A questão do contexto, que merece uma atenção bem maior, é extremamente complicada de ser atendida a todos. Basta pedir imagens de melancia, house e memória que, talvez, mesmo uma ferramenta de propósito geral como o Google, traga resultados mais satisfatórios, respectivamente, para quem está procurando fotos de mulheres com corpos avantajados, gosta de um seriado americano e acha que memória é simplesmente um chip. Contudo, a disposição de funcionalidades, quando for preciso, parece atender bem novas necessidades multimodais de pesquisa.

Uma única mudança poderia ser ainda mais interessante: habilitar aquele link de mais opções no menu do alto da tela para quem quiser ou não mais elementos ou refinamentos no novo menu à esquerda. Como o Google de vez em quando muda alguns detalhes, a discussão que temos é sobre este momento e o próprio tempo, época ou ano pode mostrar resultados de pesquisa mais relacionados a eventos que estão acontecendo, como é o caso da busca por melancia, house e memória. Até mais explicitamente o Google mostra isso no doodle, seu logotipo, que pode ter temas em função do momento. Neste mês de maio o logo apareceu com um jogo do PACMAN, em comemoração aos 30 anos deste videogame clássico. O sucesso foi grande e deixaram o PACMAN ainda funcionando neste novo endereço.

Observação: este post demorou um pouco devido até às mudanças de um dia para o outro no Google. Eu fiquei sem saber exatamente como ia falar do assunto devido às mudanças estarem muito instáveis, mas os posts se estabilizarão até a próxima semana.

Comunicação e interação evoluindo (ou não) da fala aos dispositivos móveis

Não é de agora que se fala em comunicação e interação na Internet e de suas possíveis formas estarem ou não evoluindo. Vi outro dia uma imagem que mostrava como o homem evolui na escrita desde seus primeiros momentos, tentando grafar uma palavra na pedra, inventando a imprensa, enviando um e-mail e mandando seus twittes. José Saramago falou que, partindo do uso limitado de 140 caracteres no twitter, o próximo passo na comunicação humana será voltar aos grunhidos.

A evolução da interação humano-computador parte da escrita em interfaces baseadas em caracteres (comandos digitados), passando pelas interfaces gráficas e pelas interfaces Web até as especulações hoje em dia sobre imersão e interface 3D. Há estudiosos que afirmam que o passo de maior evolução na interação humano-computador será quando os computadores entenderem nossos gestos. Em outras palavras, eles falam que a evolução na interação humano-computador segue um sentido inverso da interação humano-humano, ou seja, da escrita para a fala e os gestos.

Não concordo com o termo "evolução" da maneira como é tratado na maioria das vezes. Fala-se de mudanças, de transformações que podem significar reutilizar modos ou estratégias antigas. Apesar dessas transformações não serem "evolução" necessariamente, são o uso adequado às formas de interação. Isso sim é claro. Basta vermos alguns exemplos:

  • O "arrastar-e-soltar" era típico de interfaces gráficas e não de interfaces Web. Quando o "arrastar-e-soltar" foi incorporado nas interfaces Web com o advento da Web 2.0 e as possibilidades do conjunto de tecnologias AJAX, não acredito que alguém tenha achado que houve um atraso, mas sim facilidade operacional.
  • Organizações divulgam a todo tempo seus produtos e serviços, seja pela Web ou através de panfletos em papel, que parecem estar em quantidade maior nas ruas.
  • Às vezes, é importante usar muitas modalidades de comunicação para se atingir os objetivos. A Wikipedia está trabalhando a transformação de seu conteúdo em papel, mas também vídeos nos seus verbetes. Há ainda muita mudança na Wikipedia que revê os modos de escrita cada vez mais em conjunto (o que seria uma tendência na Web) e a restrição de colaboradores para promover uma melhor qualidade (o que iria na contramão da idéia de atividade colaborativa na Web).
  • A Internet está integrando recursos de comunicação do rádio, da tv, dos jornais, das redes sociais e, é verdade, bem mais do que a tv digital está integrando os recursos da Internet.

Um exemplo mais minucioso diz respeito a como acompanhamos a comunicação em um momento de interação. As pistas que o outro nos dá para continuarmos a conversa, cedermos a palavra ou mudarmos o rumo do assunto podem estar no olhar, no ato de levantar o dedo ou no modo de se expressar corporalmente como um todo. Na Internet, precisamos ao menos de indicadores de presença que podem ser símbolos indicando que alguém está no chat, informações sobre se o outro está digitando algo ou até mesmo a visualização dos caracteres que o outro está digitando e apagando. Face a face não precisamos desses indicadores e isso reforça o estudo do uso adequado de formas de interação muito mais do que saber se há ou não evolução no modo de nos comunicarmos.

Mais um exemplo, esse experimentado pessoalmente na última semana. Estava conversando com Isaac, aluno de Sistemas para Internet e resolvemos testar uma das funções do Google Labs (funções disponibilizadas experimentalmente para testes antes de serem incorporadas definitivamente aos programas do Google). A função do robozinho Android possibilita que vejamos no bate-papo do Google se as pessoas estão usando um celular com Android. Esta função é ativada experimentalmente no Gmail no menu configurações, na aba Labs e marcando o botão Ativar no Lab Robô verde, como demonstrado na figura abaixo.


A questão interessante que nos propusemos foi ativar o Gmail via desktop, depois via celular para ver como o símbolo mudava na visualização de outra pessoa que também estivesse usando o Gmail com o bate-papo. O símbolo de bolinha verde mudou para robozinho verde como esperado, mas quando voltamos a mandar mensagens no bate-papo via desktop, o robozinho continuou sendo mostrado. Em outras palavras, mostrava que eu estava usando celular, mesmo que eu estivesse mandando mensagens pelo desktop. Bastava apenas que o celular continuasse ligado. Era como se o sinal do Android tivesse prioridade. De todo modo, não havia um sinal que representasse fielmente minha comunicação, podia até indicar uma pista falsa.

E novamente: nada de evolução ou não, mas simplesmente verificação de formas adequadas de comunicação. Vamos esperar para ver se o Google vai considerar esta situação.

A linguagem certa em e-mails no Google

Um dia desses, ao enviar um e-mail pelo Gmail, sem arquivo em anexo, mas com o termo "anexo" escrito na mensagem, me deparei com um aviso do programa, dizendo exatamente que eu tinha colocado o termo "anexo" no e-mail e alertando, "gentilmente", que eu não tinha anexado nenhum arquivo. Tentei reproduzir a situação, mas só consegui algumas vêzes. Notei que o aviso ocorria exatamente para a expressaõ "em anexo", mas não quando se excluia o "em". Há algumas bobagens ao se referir ao uso da expressão em português. Alguns acreditam que a palavra anexo é apenas adjetiva e, portanto, teria sempre que ter alguma concordância, nunca devendo ser usada ao lado de "em". As gramáticas formais já abonam perfeitamente o uso da expressão com "em". Contudo, restringem o uso "em anexo" como invariável e sem o "em" como um adjetivo e, portanto, com concordância e variando.

Há um problema se o Google vier a adotar o seu aviso apenas para as formas gramaticalmente aceitas da norma oficial. Expressões como "envio anexo minha documentação" não seriam identificadas, mas deveriam ser porque refletem uma ação real e, se alguém escrever esta mensagem e não anexar um arquivo, merece a mesma atenção. Até porque pode não só ter esquecido de anexar algo, mas também ter esquecido de observar sua escrita na hora da pressa, o que acontece com qualquer pessoa que eu conheça.

Se a forma do Google identificar a linguagem humana for pelo caminho irreal do uso que há nas gramáticas normativas, ocorreria algo como não dar atenção a uma pessoa, fornecendo a ajuda necessária, simplesmente porque a pessoa escreveu de um jeito diferente (ou "errado"). Porém o uso concreto e compartilhado pelas pessoas é o certo para a comunicação.

Para evitar maiores problemas de muitos avisos ou avisos inconvenientes, o Google pode simplesmente usar as formas de sugestão que já adota para pesquisas e em outras situações de comunicação, mostrando alternativas de acordo com o contexto, conforme vídeo adiante, mas com o acréscimo de o usuário poder ou não habilitar. Desse modo, estaríamos implantado uma análise do português útil em e-mails e longe da infelicidade dos gramatiqueiros.