Metáforas no computador e na Internet

Vou adiar de novo a discussão sobre configurações, atividade e exposição como parâmetros para entender as interações em redes sociais. Esta semana, fiz um estudo sobre metáforas e mudei um artigo que tinha fora do blog e que agora é o texto adiante.

Pastas, arquivos, lixeira e mesa de trabalho (desktop)? Janelas, páginas e Web? Essas e outras metáforas só são entendidas de maneira efetiva se forem enfocadas no uso e perderem a maior parte das ligações com seus correspondentes físicos. As pessoas que querem a todo custo relacionar as metáforas da interface do computador com o mundo físico defendem uma visão que está fora da concretude da realidade e atrasam a compreensão de como funcionam as interfaces. Coloco adiante as minhas justificativas para a afirmação dada, com alguns exemplos, e proponho duas possíveis soluções para o problema.

Em primeiro lugar, ter "o uso" como efetivo para o entendimento implica, no caso das metáforas computacionais, tomar como ponto de partida práticas de manipulação de elementos em interfaces gráficas, as quais tornam tais elementos compreensíveis; ao contrário do que ocorre quando os relacionamos com a vida fora do computador. As pastas, por exemplo, foram criadas no intuito de as relacionarmos com as pastas de escritório, é verdade, mas no dia-a-dia elas têm usos bem diferentes. No escritório, colocamos pastas sobre pastas e, para tirarmos as que estão embaixo, precisamos tirar as que estão em cima. No computador, elas estão sempre flutuando e verificamos pastas mais internas a partir de um clique no sinal de “+”, que em seguida se transforma em um sinal de “-” (no Windows 7 temos uma setinha). Foi o que ocorreu quando se clicou no sinal da pasta “Lafayette”, mostrada abaixo.

É crucial notar aqui que a suposta naturalidade das pastas do computador, relacionada às pastas materiais, cai por terra quando pensamos sobre seus elementos internos. Alguém poderia dizer que guardamos arquivos em uma pasta tanto em um meio quanto no outro. O problema é que essa constatação vê a prática do uso pela metade. Não somente guardamos arquivos, também os procuramos, e a busca de material se faz de um jeito bem diferente do que é tratado no mundo físico. Nos primeiros sistemas operacionais gráficos, pensava-se que criar hierarquia de pastas, nas quais os arquivos fossem devidamente colocados, bastaria para que as pessoas entrassem nas pastas adequadas e encontrassem o material de interesse. No dia-a-dia, novamente não é assim que acontece. O uso da ferramenta “localizar” é constante, principalmente quando procuramos um arquivo que deixamos de usar muito tempo atrás. O que se descobriu foi que as pessoas tentam lembrar do material muito mais pelo nome que lhes é dado do que pela hierarquia das pastas.

Tentativas de mudar esta situação foram colocadas nos sistemas como é feito na disposição dos arquivos mais recentemente utilizados. Mas o problema continua porque muita gente insiste em ensinar uma hierarquia natural que estaria no mundo das pastas.

Outro ponto a se pensar é que, no nosso cotidiano material, pastas em um escritório são elementos usados diferentemente de lixeiras, computadores e mesas de trabalho. Por mais óbvio que isso possa parecer, não é assim que ocorre quando usamos tais elementos na tela. A lixeira, por exemplo, funciona exatamente como uma pasta. Basta abrirmos sua janela e verificarmos a sua estrutura (alíás, a pasta vira uma janela - outra inverossimilhança). Não é incomum que, em aulas de introdução à informática, quando o professor tenta relacionar todas as metáforas do computador com o mundo físico e fale do desktop (mesa de trabalho), o aluno pergunte: “Por que a lixeira fica em cima da mesa e não embaixo?”

Soluções: 

1) estrategicamente, ensinar/explicar os elementos da interface do computador em função de suas diferenças com o mundo físico e não em função de suas semelhanças e, em termos de postura tanto para essa situação quanto para outras coisas da vida, compreender que muitas vezes as situações mais concretas e realistas não são as mais práticas e objetivas, muito menos as ditas “naturais”, mas sim as que dizem respeito ao funcionamento do cotidiano.

2) admitir que as metáforas são processos criativos, surgem na interação entre as pessoas e com o ambiente e não são um sentido figurado correspondente a um sentido literal mais objetivo, inicial e compreensível - isso faz com que se entenda a metáfora na gramática da escola como uma palavra que substitui outra. Veja como isso é irreal, considerando os exemplos abaixo usados para referir-se a componentes na interface. Você teria outro termo mais claro e literal para eles?
  • arquivos;
  • pastas;
  • lixeira;
  • mesa de trabalho
  • janelas (do Windows);
  • barra de rolagem (das janelas).
Mas não é apenas sobre os componentes da interface que temos dificuldade de não metaforizar. Podemos pensar no uso de metáforas de uma forma mais ampla, em relação aos programas que estão na Internet:
  • sistema;
  • web;
  • ferramentas;
  • recursos;
  • serviços;
  • redes sociais.

1 Response to "Metáforas no computador e na Internet"

  1. Misflower - Flávia Peres says:
    25 de maio de 2011 às 15:14

    Interessante texto, Lafa. Essa visão é totalmente coerente com a idéia de cognição situada, distribuída e, no caso principalmente, incorporada. a produção de sentidos emerge e se desenvolve em contextos que ao mesmo tempo se transformam pela atividade. metáforas são usadas a todo o momento e não apenas nas situações extraordinárias de imaginação poética ou ornamentação retórica. práticas sociais em contextos informatizados têm obviamente particularidades conceituais relacionadas a tais contextos. perfeito! Vou aguardar sua discussão sobre configurações e atividade, pq tenho escrito sobre atividade, práticas de uso de sofware e config contextuais em ambientes escolares. ao diálogo. abraços, manda ver #ProfessorLafa !