Participação e privacidade - CONTEXTO em IHC com dispositivos móveis e em redes sociais (parte 3)

Da mesma forma que a interação mediada pelo computador altera a configuração do ambiente (falei neste post) e como organizamos nossas atividades (falei neste outro post), também altera como estamos participando e nos expondo. Ou seja, há uma mudança em relação a como estamos presentes um em relação ao outro. A idéia de presença sempre esteve ligada à maneira de se expor. Se estou presente, estou, obviamente, mostrando-me para os outros, que estariam me vendo e poderiam me observar. Ops! - em redes sociais não é bem assim... e com as tecnologias móveis esta questão muda mais acentuadamente. Simplesmente, a privacidade acabou. Não mais podemos nos dar ao luxo de achar que temos domínio sobre nossas vidas e as guardamos em um lugar seguro. Mas há três "poréns" e enquadres que explico adiante, com exemplos .


- Estar na rede marcado na interface - Exemplo: no Facebook, pode-se ver uma lista de pessoas que estão ligadas a um grupo e uma lista de pessoas que estão disponíveis para conversas online no bate-papo. Além disso, há a lista de amigos propriamente dita do Facebook (pouco usada), que não é o grupo nem os amigos de bate-papo, mas um conjunto de pessoas que podemos organizar na rede para ver as postagens que estão fazendo. Sabemos que amigos podem ser pesquisados e vistos na lista de outros amigos e, dependendo da autorização de um pedido de amizade, podem se tornar nossos amigos também. Em todos esses casos, há maneiras específicas de se dispor ou se expor ao outro. Basta estar na rede que a privacidade acaba, online ou não. Obviamente, esta maneira de estar à disposição ou não vai depender da configuração contextual, como explicamos no post com o exemplo do Gmail. Naquele caso, também há várias formas de estar à disposição, e vários tipos de mensagem podem chegar ao usuário, estando ele online ou "invisível". No caso no Facebook, a possibilidade de configuração contextual é muito maior e, consequentemente, há maior chance de variar as formas de participação.

Essas listas com indicações gráficas e textuais das pessoas indicam uma forma de o sujeito estar na rede, que é a sua marcação na interface. Pois bem, estamos marcados para sempre sobre onde estamos e a respeito do que estamos fazendo e, quando não estamos marcados em um certo momento, há sempre a possibilidade de dizer a alguém que se está na espreita, que se deseja um encontro. Por isso, a privacidade acabou quando se vê ou não a marcação na interface.

- Estar na rede marcado na Interface para ser localizado fisicamente - podemos ter a marcação como um ponto de partida para encontros pessoais e fisicamente presenciais. Sabemos que muita gente adora dizer espontaneamente o que está fazendo ou para onde está indo. Para todas as redes, há plug-ins e aplicativos para se mostrar onde estamos geograficamente com alta precisão. Sem contar a descoberta recente sobre a capacidade de todos os celulares mostrarem onde as pessoas estão sem qualquer instalação de aplicativo ou autorização do usuário, como você pode conferir nesta reportagem. Há alguns formas de desabilitar esses rastreamentos, admitidos tanto pela Apple quanto pelo Google, mas algumas soluções envolvem radicalmente mudar o sistema ou o aparelho. Conseguimos, ainda, inferir sobre a localização de uma pessoa a partir da regularidade e do tipo de informação que é colocada na timeline, bem como do modo como se está escrevendo, mesmo se não houver indicação espontânea. Um exemplo: um aluno falou que eu estava de táxi a caminho do trabalho e utilizando meu celular para acessar a Internet. Ele conseguiu inferir isso pelo horário e pela maneira como coloquei o texto, breve e incompleto, mesmo sem ter a sua disposição como ver o símbolo do robô do Android - que indicaria que eu estava com celular.

- Estar localizado fisicamente em algum lugar do mundo para localização na rede - mesmo em um possível mundo físico sem Internet, temos radares, sensores, satélites, câmeras e os mais diversos dispositivos que podem coletar informações sobre nós e espalhar pela rede. Do mesmo modo que alguém que está na rede não se expõe diretamente, mas deixa pistas sobre o que está fazendo, não há qualquer necessidade de que, no mundo físico, as pessoas se mostrem conscientemente para já estarem na rede. Ter uma conta em banco, mesmo que não se faça acesso a ela pela Internet, pode expor qualquer um na rede - basta que o banco disponha os dados da pessoa em sistemas interconectados. Mas isso não seria atitude isolada do banco, pois qualquer instituição hoje em dia está conectada e como os indivíduos vivem em instituições... Mais um exemplo: em uma experiência, criei grupos no Facebook para as disciplinas que leciono. Os alunos poderiam utilizá-los a qualquer momento para postar, comentar e mostrar que haviam feito alguma tarefa, tanto em laboratório quanto fora dele e em outro horário. Pude identificar que as formas de se expor por parte dos alunos adquiriram características específicas. Um aluno postou uma mensagem no horário da aula de laboratório, mas ele não estava no momento, ou seja, o fato dele se mostrar na rede enfatizou que ele não estava no laboratório - foi quando notei que ele havia "faltado", mas estava participando da discussão. O aluno estava localizado em casa e participando da discussão na rede. Ainda em relação à localização física, poderia falar de como os objetos do nosso mundo estão nos dando acesso à Internet, mas falarei disso posteriormente, pois é um assunto que demanda outra análise (já podemos, por exemplo, "curtir" um pacote de biscoito na prateleira do supermercado e esta situação ser compartilhada com os amigos da sua rede) .

A essas três formas de se expor e de ter aceso a informações dos outros, dependendo da configuração contextual, chamamos acessibilidade interacional. A acessibilidade interacional no Facebook tem uma dependência muito grande da configuração contextual, já que há uma disponibilidade muito grande de modos de configurar a privacidade e o compartilhamento de informações para outras pessoas. A acessibilidade interacional no exemplo do laboratório envolvia também a não co-presença física do aluno. Novas formas de acessibilidade interacional, contudo, devem-se à possibilidade de dispor para as pessoas formas diferentes de monitorar e mostrar a interação de acordo com sua metodologia de ensino ou seu estilo de trabalho. De todo modo, esta acessibilidade mostra claramente que podemos nos recolher em um lugar do quarto para interagir com o mundo, que nos tornamos privados para sermos públicos, enfim, que a idéia de "vida privada" realmente não existe mais - vamos ter que nos conformar, no máximo, com a vida "disponível" ou "não disponível"... e saber como tomar cuidado com o que mostramos também é bom. Veja só o que pode ocorrer com o seu trabalho:

Ou com seus filhos:


CONTEXTO em interação humano-computador com dispositivos móveis e em redes sociais (parte 2)

Ao falar sobre contexto na interação humano-computador em outro post, disse que há três dimensões para se analisar e compreender como as pessoas interagem, especialmente através das novas tecnologias:

1) configuração do ambiente - que não seria apenas o modo como o sistema está configurado, mas também as possibilidades de configuração e habilidades do usuário para configurar (o termo "configuração" foi colocado por não haver outro termo no português brasileiro). Exemplo: como eu configuro no Facebook o modo que apareço ou não no bate-papo e habilito para que pessoas específicas apareçam.

2) tipo de atividade - que na interação em rede envolve os focos possíveis de atuação existentes enquanto interajo (falo neste post) e

3) formas de participação - a inexistência da presença, trocada pela disponibilidade, que falarei em post posterior.

Tipo de atividade - Imagine duas situações:

1) você encontra alguém na rua, começa a conversar e a pessoa pergunta o que você está fazendo naquele momento. Bom... você estará obviamente conversando e, provavelmente, em uma comunicação normal esta dúvida não ocorrerá.

2) Agora, imagine que, nesta conversa, a pessoa informa a você que perdeu o emprego ou que o pai está com câncer. Você, então, toma um cafezinho e escreve uma mensagem no celular enquanto ouve os problemas do seu amigo. Bom... muito provavelmente você não fará isso. Além de deselegante, para não dizer o mínimo, tal situação não é regular nesses contextos comunicativos.

O que foi colocado nos dois parágrafos anteriores é incomum para a interação face-a-face, mas na interação através do computador, em uma rede social,  por exemplo, há ações equivalentes, e isso ocorre devido a duas razões: o modo de focar a atividade (polifocalidade - referente à situação 1) e a dificuldade de se estabelecer a ação da atividade no momento de interação (o campo de ação - referente à situação 2). Entende-se que há uma figura e fundo na atividade, ou seja, uma ação primária sobre outra que eventualmente possa emergir, o que é difícil estabelecer na interação humano-computador. Vamos explicar com exemplos.

Na interação humano-computador, é difícil saber qual é o evento focal do usuário. Se você está usando o computador em um laboratório com os colegas para fazer um trabalho ou estudar, pode ser que também envie mensagens para a namorada, deixe um texto aberto para tentar completá-lo e ouça música enquanto navega por outros sites. O que você estaria fazendo neste instante? Utilizando o estudo como pretexto para realizar outras atividades ou fazendo essas atividades como pretexto para estar estudando? Hoje, já é comum deixarmos não só mais de um programa rodando, mas também ambientes colaborativos diferentes e procurarmos interagir com o maior número possível deles. Alguns estudiosos dizem que isso faz com que a nova geração esteja perdendo o poder de concentração, mas é difícil negar que adquirem habilidades cada vez mais poderosas de lidar quase ao mesmo tempo com atividades diferentes. O pesquisador Rodney Jone estava com os alunos em um laboratória na sua aula de produção de textos. Os alunos naturalmente abriram vários programas, incluindo um, semelhante ao MSN, e se surpreenderam quando o professor perguntou porque estavam com tantos programas abertos e não prestando atenção na aula. Eles não comprendiam como ligar o computador e não deixar um programa de comunicação aberto com outras pessoas. Isso significa que as pessoas não estão também simplesmente entrando na Internet, mas principalmente em ambientes colaborativos e redes sociais. E não há como trabalhar assim se não houver várias atividades em disputa, enfim, a polifocalidade da atividade, também já tranquilamente empregada no mercado de informática quando são anunciados produtos através dos quais você vai poder ler, ouvir música, interagir com outras pessoas, saber qual é sua localização, mandar e-mails, telefonar etc.

Ao me comunicar com alguém, também tenho um campo de ação muito grande e fluido. Eu posso estar abrindo janelas, clicando em links para entrar em páginas Web e em suas seções, usando dois arquivos que estão abertos no meu editor de texto e controlar a instalação de um programa, acompanhando o assistente. Em que momento há uma figura e fundo na atividade? Ou seja, que ação está em foco e quais ações estão em segundo plano? A situação é mais drástica ainda quando percebemos que, em uma rede social, podemos verificar as informações pessoais no perfil de alguém, olhar as fotos que são postadas, ler o status da pessoa, ver um vídeo que ela coloca ou o link disponibilizado e emitir uma opinião ou mandar uma mensagem. Em outras palavras, estabelecemos como ponto de partida da interação, não apenas um texto de um amigo, mas quaisquer informações que ele puder dispor. MAS CUIDADO! Isso não quer dizer que as novas tecnologias computacionais possibilitaram a polifocalidade e a diluição figura-fundo na comunicação. Isso sempre ocorreu. O que muda é que essas novas tecnologias possibilitam uma facilidade muito maior de alternância das ações e da atividade sem o risco de ofender a pessoa com a qual se está interagindo ou trazer constrangimento.

Vimos nas situações 1 e 2, ocorrências incomuns na fala, mas podemos agora compreender equivalentes que não causam qualquer estranhamento ao usuário. É muito provável que esta explicação também indique que a ATENÇÃO no momento de interação não é um processo individual - simplesmente não é algo que surge da "cabeça do indivíduo". A atenção mostra-se, assim, como uma construção social, uma maneira de se negociar ações que são disponibilizadas conforme a maneira que se interaja. A atenção não é algo que surge na interação, mas algo que é construído na interação das pessoas entre si e com o seu ambiente, físico ou virtual. A atenção não é um processo interno à mente humana, mas um fenômeno que existe porque nós "prestamos", "chamamos", "roubamos"...

Metáforas no computador e na Internet

Vou adiar de novo a discussão sobre configurações, atividade e exposição como parâmetros para entender as interações em redes sociais. Esta semana, fiz um estudo sobre metáforas e mudei um artigo que tinha fora do blog e que agora é o texto adiante.

Pastas, arquivos, lixeira e mesa de trabalho (desktop)? Janelas, páginas e Web? Essas e outras metáforas só são entendidas de maneira efetiva se forem enfocadas no uso e perderem a maior parte das ligações com seus correspondentes físicos. As pessoas que querem a todo custo relacionar as metáforas da interface do computador com o mundo físico defendem uma visão que está fora da concretude da realidade e atrasam a compreensão de como funcionam as interfaces. Coloco adiante as minhas justificativas para a afirmação dada, com alguns exemplos, e proponho duas possíveis soluções para o problema.

Em primeiro lugar, ter "o uso" como efetivo para o entendimento implica, no caso das metáforas computacionais, tomar como ponto de partida práticas de manipulação de elementos em interfaces gráficas, as quais tornam tais elementos compreensíveis; ao contrário do que ocorre quando os relacionamos com a vida fora do computador. As pastas, por exemplo, foram criadas no intuito de as relacionarmos com as pastas de escritório, é verdade, mas no dia-a-dia elas têm usos bem diferentes. No escritório, colocamos pastas sobre pastas e, para tirarmos as que estão embaixo, precisamos tirar as que estão em cima. No computador, elas estão sempre flutuando e verificamos pastas mais internas a partir de um clique no sinal de “+”, que em seguida se transforma em um sinal de “-” (no Windows 7 temos uma setinha). Foi o que ocorreu quando se clicou no sinal da pasta “Lafayette”, mostrada abaixo.

É crucial notar aqui que a suposta naturalidade das pastas do computador, relacionada às pastas materiais, cai por terra quando pensamos sobre seus elementos internos. Alguém poderia dizer que guardamos arquivos em uma pasta tanto em um meio quanto no outro. O problema é que essa constatação vê a prática do uso pela metade. Não somente guardamos arquivos, também os procuramos, e a busca de material se faz de um jeito bem diferente do que é tratado no mundo físico. Nos primeiros sistemas operacionais gráficos, pensava-se que criar hierarquia de pastas, nas quais os arquivos fossem devidamente colocados, bastaria para que as pessoas entrassem nas pastas adequadas e encontrassem o material de interesse. No dia-a-dia, novamente não é assim que acontece. O uso da ferramenta “localizar” é constante, principalmente quando procuramos um arquivo que deixamos de usar muito tempo atrás. O que se descobriu foi que as pessoas tentam lembrar do material muito mais pelo nome que lhes é dado do que pela hierarquia das pastas.

Tentativas de mudar esta situação foram colocadas nos sistemas como é feito na disposição dos arquivos mais recentemente utilizados. Mas o problema continua porque muita gente insiste em ensinar uma hierarquia natural que estaria no mundo das pastas.

Outro ponto a se pensar é que, no nosso cotidiano material, pastas em um escritório são elementos usados diferentemente de lixeiras, computadores e mesas de trabalho. Por mais óbvio que isso possa parecer, não é assim que ocorre quando usamos tais elementos na tela. A lixeira, por exemplo, funciona exatamente como uma pasta. Basta abrirmos sua janela e verificarmos a sua estrutura (alíás, a pasta vira uma janela - outra inverossimilhança). Não é incomum que, em aulas de introdução à informática, quando o professor tenta relacionar todas as metáforas do computador com o mundo físico e fale do desktop (mesa de trabalho), o aluno pergunte: “Por que a lixeira fica em cima da mesa e não embaixo?”

Soluções: 

1) estrategicamente, ensinar/explicar os elementos da interface do computador em função de suas diferenças com o mundo físico e não em função de suas semelhanças e, em termos de postura tanto para essa situação quanto para outras coisas da vida, compreender que muitas vezes as situações mais concretas e realistas não são as mais práticas e objetivas, muito menos as ditas “naturais”, mas sim as que dizem respeito ao funcionamento do cotidiano.

2) admitir que as metáforas são processos criativos, surgem na interação entre as pessoas e com o ambiente e não são um sentido figurado correspondente a um sentido literal mais objetivo, inicial e compreensível - isso faz com que se entenda a metáfora na gramática da escola como uma palavra que substitui outra. Veja como isso é irreal, considerando os exemplos abaixo usados para referir-se a componentes na interface. Você teria outro termo mais claro e literal para eles?
  • arquivos;
  • pastas;
  • lixeira;
  • mesa de trabalho
  • janelas (do Windows);
  • barra de rolagem (das janelas).
Mas não é apenas sobre os componentes da interface que temos dificuldade de não metaforizar. Podemos pensar no uso de metáforas de uma forma mais ampla, em relação aos programas que estão na Internet:
  • sistema;
  • web;
  • ferramentas;
  • recursos;
  • serviços;
  • redes sociais.

Três inverdades ditas sobre a língua para quem não é linguista

Antes de voltar ao post anterior (falando de configuração, tema da atividade e forma de exposição para entender como se dá a interação em ambientes sociais na Internet), preciso comentar uma notícia que saiu recentemente sobre o uso da linguagem e a adoção de um livro didático pelo MEC. Esta notícia me motiva a escrever novamente neste blog (finalmente!) e a tentar esclarecer equívocos graves sobre pensamentos a respeito do uso da língua, disseminados na mídia como sendo a maior verdade do mundo e um problema terrível para o cidadão brasileiro.
O livro mostra exemplos da fala popular e diz que esses exemplos podem ser usados, dependendo da situação em que o falante se encontre. O problema realmente grave não é o livro, mas como o momento está sendo aproveitado para que várias figuras da mídia se arvorem revoltadas, explicitando preocupações que sequer teriam uma razão mínima de existir.
Escritores da Veja, comentaristas da Globo e consultores de gramática falam inadvertidamente que o livro se baseia em uma “lingüística moderna” que incentiva às pessoas a falarem errado e diz que tudo é permitido porque não existem regras na língua. Três pontos menciono, inicialmente, para mostrar que a forma como a imprensa coloca a matéria, se não for de má-fé, é de um incentivo ingênuo à ignorância:
1)      O livro se baseia em uma “lingüística moderna” que incentiva às pessoas a falarem errado – Não é a verdade dos fatos, pois os lingüistas “modernos” ou “antigos” não aplicam a idéia de errado (ou não dizem que o erro ocorre apenas fora da gramática formal);  apenas falam das formas de adequação da linguagem que existe no mundo real. Os lingüistas não propagam como a linguagem tem que ser usada, apenas estudam os usos da língua e suas razões de ser. Esses lingüistas são cientistas que, assim como um físico que se depara com novos fenômenos do movimento, biólogos que encontram novas espécies e antropólogos que descobrem vestígios históricos para compreender a humanidade, não dizem que seus objetos de pesquisa são “errados” ou que “não existem”. Eles apenas estudam a razão de ser dos fenômenos ou vão procurar entender o discurso (da mídia, da religião, da ciência e de outras esferas)  bem como a linguagem do dia-a-dia, seja ela falada ou escrita. Eles também dão valor à fala por uma questão óbvia: o ser humano além de escrever, fala, e na maior parte do seu tempo. Além disso, na humanidade há civilizações que falam e escrevem e as que apenas falam (em um maior número, por sinal), o que indica, no mínimo, que a fala também merece a atenção de estudos.
2)      Essa lingüística na qual se baseia o livro do MEC diz que tudo é permitido – Não é verdade. Os lingüistas que conheço (são vários e das mais diferenciadas linhas) estudam dimensões e aplicações da língua e investigam suas peculiaridades ou regularidades, o seu desenvolvimento na vida do ser humano e na humanidade, as origens e o funcionamento concreto da língua por pessoas reais na fala e na escrita, e não em frases isoladas de uma gramática normativa. Portanto, são esses estudiosos os que mais têm consciência das regras empregadas nas línguas do nosso mundo. Eles apenas não impõem que as regras têm que ser aplicadas de um para outro campo, da escrita para a fala ou vice-versa. Eles constatam como as pessoas efetivamente as aplicam no mundo e não exercem poder de polícia, dizendo que uma forma de falar ou escrever precisa ser usada em detrimento de outra. Daí achar que eles dizem que tudo é permitido, vai longe.
3)      Não deveria ser estudada a língua popular ou a que se usa na Internet, dentro de sala de aula, porque essas os alunos já sabem – Novamente, não é a verdade clara, que deveria ocorrer: as pessoas na escola merecem estudar o que as ciências da linguagem têm trazido de importante para a evolução do conhecimento e não apenas aprender a obedecer regras  (na verdade, leis do certo e do errado).  Se aprendemos sobre o que os cientistas e estudiosos da física, da matemática, da biologia, da história e da geografia nos trouxeram, por que não podemos aprender sobre o que os lingüistas estão debruçados? E se eles estudam a linguagem nas sua mais diversas manifestações (da criança, na rua, o “internetês” etc), por que os que estão na escola também não podem estudar? Não vejo os lingüistas dizendo que o estudo da gramática formal deve ser proibido, mas os gramáticos, sim, querem impedir o verdadeiro acesso à compreensão do funcionamento da linguagem humana, manifestada em suas mais diferenciadas situações .
Enfim, por que o escândalo sem ao menos debater o porquê do funcionamento da língua informal? (que é uma parte de um capítulo deste livro que estão condenando – e não o livro todo) Pior, por que gerar revolta e polêmica quando se mostram apenas que as várias situações da fala geram preconceito? Talvez este livro fale um pouco de preconceito lingüístico, mas o que deveria mesmo era denunciar os preconceitos por trás dos ditos “preconceitos lingüísticos”. Afinal de contas, quando falamos “me dê o sal”, não há escândalo. Escândalo mesmo é quando essa “gente diferenciada” diz “pobrema” ou não faz as concordâncias devidas. Mas, peraí... de acordo com a gramática formal tudo isso não constitui um erro? Claro, mas a oportunidade para atacar os lingüistas e outras formas de abordar a língua, fora do padrão estabelecido como culto (formal), é melhor de ser aproveitada se for registrada em um livro aprovado pelo MEC.

CONTEXTO em interação humano-computador com dispositivos móveis e em redes sociais (parte 1)

Falei rapidamente, na postagem anterior, sobre o fato de o Google não conseguir acompanhar o contexto da busca que o usuário faz. Sugeri que, ao fazer a pesquisa por imagens com termos como melancia, house e memória, talvez o usuário se surpreenda. A maioria das imagens mostradas no resultado da pesquisa não será de uma fruta, de uma casa nem a palavra memória estará associada a figuras do cérebro. Isso acontece devido ao contexto no qual o usuário está, que implica interesses específicos. O Google faz as buscas dentro de outro contexto, considerando que os três termos estão mais associados, atualmente, a uma mulher com o corpo avantajado, a um seriado de tv norte-americano e muito mais a chips do que a descrições da biologia humana.

O que importa aqui é saber o contexto. Porém, falamos muito sobre contexto sem definirmos o que realmente queremos. Falamos sobre contexto como frases que não compreendemos por terem sido tiradas de uma sequência lógica , mas também podemos falar de contexto como informações implícitas que as pessoas precisam saber para entender uma conversa. Na Internet não é diferente, e também dizemos que muita coisa depende do contexto sem especificarmos corretamente o que queremos.

Um fator importante a ser considerado é como as ciências levam o conceito de contexto em consideração para resolver seus problemas. A linguística traz vários problemas e linhas teóricas de abordagem do contexto para a compreensão do funcionamento da língua. A computação toma contexto como um problema que precisa ser resolvido para que os sistemas supram os usuários das informações mais adequadas no momento em que for necessário.

A computação trata de contexto nos estudo de interação humano-computador e sistemas colaborativos, dentre outras sub-áreas, mas tem suas definições sobre o tema trazidas de exemplos e sinônimos de outros autores, como pode ser visto em artigo de Anind. Há no estudo dos sistemas, inclusive, a idéia de ciência do contexto, que seria "a característica de um sistema prover informações ou serviços para um usuário, quando for relevante, de acordo com a tarefa que ele está realizando". Falarei mais disso em outra postagem.

Como quero compreender como as pessoas interagem contextualmente - e isso também pode ser aproveitado para futuras questões de desenvolvimento de sistemas - vou tomar como base trabalhos de Rodney H. Jones, que estão mais relacionados com a linguística. Colocarei, contudo, alguns exemplos que considero mais atuais e que, até por isso, parecem bem enfáticos em relação ao que o autor trata em texto sobre a problemática do contexto na interação humano-computador.

Rodney H. Jones fala das idéias gerais de contexto, como evoluíram na linguística e do fato de os estudos darem importância ao assunto, mas só trazerem análises descontextualizadas de chats, mensagens de e-mails e postagens em blogs. Parece que os estudiosos da linguística acham o contexto importante, mas o menosprezam em suas análises, não consideram o ambiente em que o usuário interage e isso se deve a dificuldades sobre que aspectos contextuais analisar e até mesmo a complicações sobre como obter acesso a esses aspectos.

Rodney Jones faz todo um apanhado de como várias linhas de pesquisa abordaram o contexto, passando pela sequência de frases, pelas expectativas dos indivíduos e pelos seus modelos mentais. Fala das noções que sustentam as relações entre linguagem, cultura e organização social. O autor trata das relações entre texto e contexto. Ele discute o contexto abordado por alguns pesquisadores como sendo a tríade das características consideradas relevantes pelos participantes, os objetos relevantes na situação e o efeito da ação verbal. Há espaço para o contexto como a ação desenvolvida em uma estrutura social mais ampla no exercício do poder e da dominação. Contudo, o que fica bem claro para Rodney Jones é que o contexto não pode ser limitado à realidade física ao redor do texto. O professor Marcuschi já tratou disso muito bem sem nem considerar os efeitos tecnológicos. Rodney Jones trata de três aspectos cruciais (configuração do ambiente, tema/tipo da atividadeformas de participação) com alguns exemplos gerais e eu, adiante, vou comentar esses aspectos à luz das interações mediadas em redes sociais na Internet e através de dispositivos móveis.

1 - Configuração do ambiente - Um ambiente físico tem seu papel na interação e suas peculiaridades, que podem mudar de acordo com a maneira como foi construído. Um sistema computacional tem suas características resultantes em grande parte da forma como foi implementado. Há também maneiras de se discernir nesses ambientes e sistemas como as pessoas interagem e que são diferentes em um chat e em uma conversa no corredor. Porém, em ambos, no ambiente físico e nos sistemas, não temos apenas configurações a serem investigadas e que podem ser desmontadas para uma completa investigação das possibilidades de interação. Essas possibilidades se fazem no uso dos ambientes virtuais ou físicos e podem depender muito das habilidades e dos interesses que as pessoas têm no momento ou do que pretendem negociar. Portanto, o mais importante não é a configuração do ambiente, mas como as pessoas percebem e gerenciam essas configurações quando interagem publicamente. Em alemão, essa propriedade se chamaria Umwelt, sem um correspondente no português brasileiro.

Exemplo: a maneira como gerenciamos a nossa lista de e-mails de amigos no Gmail para conversarmos com eles. Temos a possibilidade de mandar mensagens diretamente quando vemos um círculo verde associado a alguém. Quando o círculo está cinza, significa que a pessoa não está disponível, mas também podemos mandar uma mensagem. Nesse caso, a mensagem será recebida posteriormente quando o usuário se conectar à Internet. Mas ele também pode ter configurado o seu bate-papo para ficar "invisível" e nesse caso o seu círculo pode estar cinza, mas ele está lá e não quer mostrar às pessoas que está. As mensagens podem ser enviadas diretamente e o bate-papo estar configurado para aparecer em outras aplicações do Google, como o Orkut. Quando alguém está usando uma câmera, o círculo se transforma no símbolo de uma pequena câmera. Também pode ser visto, dependendo se estiver configurada a opção no Google Labs, se a pessoa está usando um celular com Android conforme discuti em outro post.

Enfim, não há simplesmente configurações, há possibilidades de se usar o ambiente, que dependem do nível de conhecimento do usuário e dos seus objetivos. Há camadas de possibilidades de agir e novos recursos surgem de acordo com novas demandas - Unwelt. Um fato importante para esta característica de interação em contexto é a forma de se ver a privacidade. As pessoas não estão presentes ou ausentes em um determinado lugar. Elas estão disponíveis. A partir da interface, as pessoas se isolam para não ficarem sós.



(continua na próxima postagem...)

A NOVA CARA DO GOOGLE: linguagem diferente ou outra forma de interagir?

Foi chegando aos poucos e se estabelecendo no início de maio. O Google ganhou uma nova cara. Com cores parecendo mais fortes pelo fato de tirarem um pouco a sombra das letras, com a caixa de pesquisa visivelmente maior e sem links em volta desta caixa. Você consegue notar que as pesquisas agora podem mostrar opções de refinamento à esquerda. Muita gente diz que é uma inspiração clara do Bing - a ferramenta de busca da Microsoft. Desde o ano passado, contudo, já havia alguns truques para ver a interface nova do Google que estava sendo moldada. O Google, em sua história, tem trazido também modificações aos poucos como o aviso de pesquisas relacionadas e tags ao final de uma página com resultado de busca. Em um primeiro momento não havia, mesmo nesta recente mudança, alguns detalhes, como um símbolo de teclado na caixa de pesquisa.

Todas essas transformações têm sua razão de ser: adaptam o usuário, procuram focos de atenção, buscam um visual mais agradável, mas a discussão neste momento será sobre o que esta nova cara (será nova mesmo?) pode possibilitar em termos de experiência (há novos resultados de interação?). E ainda: será que as pesquisas melhoraram sob esse novo rosto? Exemplificarei ao tentar responder às questões.

Nova cara do Google - O Google sempre teve a fama de ter uma interface simples. A esta interface é dado o crédito até do sucesso do Google. Muita gente diz que o Google é bom porque "tem uma interface muito limpa e simples" e só. É difícil acreditar nisso porque outras ferramentas de busca já tiveram visual semelhante e não tiveram o mesmo sucesso. Além disso, será que o Google é simples mesmo? Para buscar informação a respeito de uma palavra-chave, certamente é. Mas para saber como pesquisar arquivos de imagem, documentos ou programas em flash a partir da caixa de texto, como fazer? Você pode digitar na caixa de texto, por exemplo, filetype:doc, e na sua pesquisa só aparecerão arquivos documento. Também pode procurar a opção respectiva de busca de documento no link "Pesquisa avançada". Saber os vários comandos, como filetype, despende muito tempo e aprender sobre as várias opções de pesquisa avançada demora menos, mas não é algo assim tão simples. Além disso, tente procurar os vários recursos que o Google tem, em experimentação ou ativados. Muita coisa você deixará de achar. Donald Norman coloca mais algumas questões sobre o mito da simplicidade do Google.  A certeza que temos é que o Google é muito simples para pesquisas com palavras-chave e não que suas buscas em geral são simples, mas a opção de pesquisa e refinamento de elementos talvez tenha mudado isso como veremos adiante.

Algumas tentativas de mudar este visual "simples" do Google para a sua pesquisa principal, porém, não têm conseguido uma diferença radical. O mesmo nome Google com sua caixa de texto sempre aparece. É curioso ver até como profissionais já especularam sobre como deveriam ser as novas interfaces do Google e constatar como ela realmente mudou.

Em outras palavras, nova cara, não, e simplicidade só no visual para pesquisas com termos chave e sem perspectiva de mudança na primeira página. Temos sim uma cara antiga maqueada. A velha cara "simples" com alguns adereços.

Experiências novas com essa nova interface - Apesar das interfaces novas do Google serem antigas caras maquedas, há a possibilidade de novas experiências, de novas formas de interação. Isso acontece porque os algoritmos de busca podem até ser os mesmos, mas a interface é a linguagem e mesmo o sistema para o usuário. Ou seja, o que é maqueado pode ser considerado o próprio programa para o usuário e cada página que ele vê, além da principal, é o programa. Vejamos os novos passos na experiência.

O usuário se depara agora com um Google assim:



Aparentemente, pouca mudança até na maquiagem (veja só o detalhe do teclado acessível para uso com o mouse), e, após uma primeira pesquisa, temos uma nova, mas não tão pequena modificação:


A mudança é o aparecimento de opções de refinamento de busca da pesquisa à esquerda em um formato de menu. É importante observar que este formato não foi definido imediatamente e não sabemos se haverá novas modificações. Em alguns dias deste mês de maio, inclusive, apareceu uma outra opção, em vez da anterior, ao se fazer a primeira pesquisa na caixa de texto do Google:

 

Esta opção tem um menu com os termos Web (que seria a opção onde você estaria teoricamente no momento, já que não tem link habilitado) e "+ Mostrar opções", através da qual as opções de refinamento de busca seriam reabilitadas à esquerda. Essas opções de refinamento de busca são realmente a grande diferença, pois possibilitam novas funções para o usuário. Inicialmente há as opções "Tudo", "Blogs" e "Mais", uma linha divisória e as opções "A Web", "Páginas em português", "Páginas de Brasil", "Em qualquer data", "Últimas duas semanas" e "Mais ferramentas". As opções "Mais" e "Mais ferramentas" abrem um leque muito grande de, respectivamente, busca por elementos específicos e refinamentos da pesquisa.

Na opção "Mais" temos o seguinte:
Com essas funcionalidades, teríamos teoricamente uma melhor definição para os elementos que estão descritos, mas há alguns problemas. Categorizar sempre implica cercear o significado. A pesquisa por "Notícias", por exemplo, leva a muitos blogs e o inverso também é verdadeiro, mas nada é dado apoio ao contexto do usuário. De todo modo, para cada um dos itens acima, refinamentos sucessivos aparecem após a linha divisória, mostrando ao usuário possibilidades que ele sequer imaginaria como duração e qualidade dos vídeos, tamanho, tipo e cor das imagens e discussões do tipo fórum ou pergunta e resposta.

Na opção "Mais ferramentas" temos o seguinte:

É interessante a diversidade de refinamentos. Há algumas opções muito novas para grande parte dos usuários, como a de cronograma, que mostra, para o termo que você está procurando, uma linha do tempo com um gráfico, indicando os anos em que aquele termo foi mais pesquisado.

As experiência são obviamente novas, ricas e há opções que o usuário poderia nem imaginar, mas agora tem em mãos. Com isso, também podemos concluir que há uma melhora na pesquisa. Alguns ainda vão achar que o Google não é mais o mesmo, que não tem aquela velha simplicidade, mas simplicidade não é apenas não ter funções, é mostrar quando for possivel e esconder quando necessário. Nesse caso, há até afinamento com as teorias das simplicidade de John Maeda. Nessas leis, um dos fundamentos é considerar funcionalidades como aquelas que são nos mostradas em um canivete suiço. Puxar o abridor de garrafas no mesmo utensílio, fecha o canivete. Quando uma função aparece, as desnecessárias são ocultadas.

A questão do contexto, que merece uma atenção bem maior, é extremamente complicada de ser atendida a todos. Basta pedir imagens de melancia, house e memória que, talvez, mesmo uma ferramenta de propósito geral como o Google, traga resultados mais satisfatórios, respectivamente, para quem está procurando fotos de mulheres com corpos avantajados, gosta de um seriado americano e acha que memória é simplesmente um chip. Contudo, a disposição de funcionalidades, quando for preciso, parece atender bem novas necessidades multimodais de pesquisa.

Uma única mudança poderia ser ainda mais interessante: habilitar aquele link de mais opções no menu do alto da tela para quem quiser ou não mais elementos ou refinamentos no novo menu à esquerda. Como o Google de vez em quando muda alguns detalhes, a discussão que temos é sobre este momento e o próprio tempo, época ou ano pode mostrar resultados de pesquisa mais relacionados a eventos que estão acontecendo, como é o caso da busca por melancia, house e memória. Até mais explicitamente o Google mostra isso no doodle, seu logotipo, que pode ter temas em função do momento. Neste mês de maio o logo apareceu com um jogo do PACMAN, em comemoração aos 30 anos deste videogame clássico. O sucesso foi grande e deixaram o PACMAN ainda funcionando neste novo endereço.

Observação: este post demorou um pouco devido até às mudanças de um dia para o outro no Google. Eu fiquei sem saber exatamente como ia falar do assunto devido às mudanças estarem muito instáveis, mas os posts se estabilizarão até a próxima semana.

Comunicação e interação evoluindo (ou não) da fala aos dispositivos móveis

Não é de agora que se fala em comunicação e interação na Internet e de suas possíveis formas estarem ou não evoluindo. Vi outro dia uma imagem que mostrava como o homem evolui na escrita desde seus primeiros momentos, tentando grafar uma palavra na pedra, inventando a imprensa, enviando um e-mail e mandando seus twittes. José Saramago falou que, partindo do uso limitado de 140 caracteres no twitter, o próximo passo na comunicação humana será voltar aos grunhidos.

A evolução da interação humano-computador parte da escrita em interfaces baseadas em caracteres (comandos digitados), passando pelas interfaces gráficas e pelas interfaces Web até as especulações hoje em dia sobre imersão e interface 3D. Há estudiosos que afirmam que o passo de maior evolução na interação humano-computador será quando os computadores entenderem nossos gestos. Em outras palavras, eles falam que a evolução na interação humano-computador segue um sentido inverso da interação humano-humano, ou seja, da escrita para a fala e os gestos.

Não concordo com o termo "evolução" da maneira como é tratado na maioria das vezes. Fala-se de mudanças, de transformações que podem significar reutilizar modos ou estratégias antigas. Apesar dessas transformações não serem "evolução" necessariamente, são o uso adequado às formas de interação. Isso sim é claro. Basta vermos alguns exemplos:

  • O "arrastar-e-soltar" era típico de interfaces gráficas e não de interfaces Web. Quando o "arrastar-e-soltar" foi incorporado nas interfaces Web com o advento da Web 2.0 e as possibilidades do conjunto de tecnologias AJAX, não acredito que alguém tenha achado que houve um atraso, mas sim facilidade operacional.
  • Organizações divulgam a todo tempo seus produtos e serviços, seja pela Web ou através de panfletos em papel, que parecem estar em quantidade maior nas ruas.
  • Às vezes, é importante usar muitas modalidades de comunicação para se atingir os objetivos. A Wikipedia está trabalhando a transformação de seu conteúdo em papel, mas também vídeos nos seus verbetes. Há ainda muita mudança na Wikipedia que revê os modos de escrita cada vez mais em conjunto (o que seria uma tendência na Web) e a restrição de colaboradores para promover uma melhor qualidade (o que iria na contramão da idéia de atividade colaborativa na Web).
  • A Internet está integrando recursos de comunicação do rádio, da tv, dos jornais, das redes sociais e, é verdade, bem mais do que a tv digital está integrando os recursos da Internet.

Um exemplo mais minucioso diz respeito a como acompanhamos a comunicação em um momento de interação. As pistas que o outro nos dá para continuarmos a conversa, cedermos a palavra ou mudarmos o rumo do assunto podem estar no olhar, no ato de levantar o dedo ou no modo de se expressar corporalmente como um todo. Na Internet, precisamos ao menos de indicadores de presença que podem ser símbolos indicando que alguém está no chat, informações sobre se o outro está digitando algo ou até mesmo a visualização dos caracteres que o outro está digitando e apagando. Face a face não precisamos desses indicadores e isso reforça o estudo do uso adequado de formas de interação muito mais do que saber se há ou não evolução no modo de nos comunicarmos.

Mais um exemplo, esse experimentado pessoalmente na última semana. Estava conversando com Isaac, aluno de Sistemas para Internet e resolvemos testar uma das funções do Google Labs (funções disponibilizadas experimentalmente para testes antes de serem incorporadas definitivamente aos programas do Google). A função do robozinho Android possibilita que vejamos no bate-papo do Google se as pessoas estão usando um celular com Android. Esta função é ativada experimentalmente no Gmail no menu configurações, na aba Labs e marcando o botão Ativar no Lab Robô verde, como demonstrado na figura abaixo.


A questão interessante que nos propusemos foi ativar o Gmail via desktop, depois via celular para ver como o símbolo mudava na visualização de outra pessoa que também estivesse usando o Gmail com o bate-papo. O símbolo de bolinha verde mudou para robozinho verde como esperado, mas quando voltamos a mandar mensagens no bate-papo via desktop, o robozinho continuou sendo mostrado. Em outras palavras, mostrava que eu estava usando celular, mesmo que eu estivesse mandando mensagens pelo desktop. Bastava apenas que o celular continuasse ligado. Era como se o sinal do Android tivesse prioridade. De todo modo, não havia um sinal que representasse fielmente minha comunicação, podia até indicar uma pista falsa.

E novamente: nada de evolução ou não, mas simplesmente verificação de formas adequadas de comunicação. Vamos esperar para ver se o Google vai considerar esta situação.